Muitas luas
se foram e ainda não chegou Novembro
São quase
meia-noite e Outubro não quer acabar
Vai
continuar se arrastando no tempo e plantando a tristeza
Derrubando
as folhas secas sem piedade
Apagando a
vela que deixei naquele altar
Fazendo a
lua fria ficar mais tempo no céu
Outubro não
deixa dormir quem é capaz de sonhar
Se Outubro
fosse embora, e levasse a romaria.
Levasse os
cânticos tristes, as vozes de adeus.
Eu daria um
sorriso breve, e plástico.
Eu colheria
os frutos maduros da arvore da felicidade
E os
guardaria, organizaria tudo em uma dispensa.
Eu tomaria
banho gelado, sentaria nas pedras.
Eu iria ver
o por do sol, e o nascer da lua nova.
Eu visitaria
meus parentes vivos.
Rezaria
pelos mortos de vela acesa
Eu
desenharia numa folha branca um pedaço do céu
Se pudesse
vê-lo
Se Outubro
acabasse agora eu tomaria sorvete de limão
Eu faria a
dança da chuva, eu abraçaria um amigo.
Eu deixaria
o sol queimar um pouquinho da minha face
Eu tatuaria
um arco íris em meu pulso.
Mas Outubro
não acaba.
Outubro é
duro na queda
Outubro
tinge de preto as minhas roupas
Outubro me
deixa trancado em casa
As minhas
olheiras aumentam em outubro
Passo noites
em claro, minha mobília não sorri pra mim.
Os azulejos
não mudam de posição
As aranhas
tecem pesadelos pelo telhado
Aqueles cuja
retina não reconhece a luz desfilam.
Ficam marcas
de choro de vela por todo o meu piso
Eu me
escondo atrás do abajur, cubro o espelho.
Eu fecho
todas as janelas, eu apago as luzes.
Ajeito os
travesseiros pra tentar dormir.
Vejo reflexos
de luz no emaranhado de pesadelos
Amanhece,
amanhece e não posso me alegrar.
Afinal de
contas ainda não acabou Outubro.
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