sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Outubro


Muitas luas se foram e ainda não chegou Novembro
São quase meia-noite e Outubro não quer acabar
Vai continuar se arrastando no tempo e plantando a tristeza
Derrubando as folhas secas sem piedade
Apagando a vela que deixei naquele altar
Fazendo a lua fria ficar mais tempo no céu
Outubro não deixa dormir quem é capaz de sonhar
Se Outubro fosse embora, e levasse a romaria.
Levasse os cânticos tristes, as vozes de adeus.
Eu daria um sorriso breve, e plástico.
Eu colheria os frutos maduros da arvore da felicidade
E os guardaria, organizaria tudo em uma dispensa.
Eu tomaria banho gelado, sentaria nas pedras.
Eu iria ver o por do sol, e o nascer da lua nova.
Eu visitaria meus parentes vivos.
Rezaria pelos mortos de vela acesa
Eu desenharia numa folha branca um pedaço do céu
Se pudesse vê-lo
Se Outubro acabasse agora eu tomaria sorvete de limão
Eu faria a dança da chuva, eu abraçaria um amigo.
Eu deixaria o sol queimar um pouquinho da minha face
Eu tatuaria um arco íris em meu pulso.
Mas Outubro não acaba.
Outubro é duro na queda
Outubro tinge de preto as minhas roupas
Outubro me deixa trancado em casa
As minhas olheiras aumentam em outubro
Passo noites em claro, minha mobília não sorri pra mim.
Os azulejos não mudam de posição
As aranhas tecem pesadelos pelo telhado
Aqueles cuja retina não reconhece a luz desfilam.
Ficam marcas de choro de vela por todo o meu piso
Eu me escondo atrás do abajur, cubro o espelho.
Eu fecho todas as janelas, eu apago as luzes.
Ajeito os travesseiros pra tentar dormir.
Vejo reflexos de luz no emaranhado de pesadelos
Amanhece, amanhece e não posso me alegrar.
Afinal de contas ainda não acabou Outubro.

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Abaixo da Auréola

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A fonte de inspiração que sobrevive aos borrões da cor, a lua que não encontra o sol e mesmo assim depende dele pra se manter clara,a alegria de um poeta ao ver a flor que molda as mais belas palavras e as sintoniza, criteriosamente, para que os admiradores sufoquem-se de beleza, inspirem-se e sonhem, cada dia, mais e mais, eu sou o portador da beleza que há nas palavras.