Eu nasci
numa manhã de lua
Guardei a
alma minha, fiquei com a alma sua.
Os ventos
movimentavam o caminhar da moça
Ela chorava,
e caminhava devagar.
Com seu
triste aspecto de dor, ela sorria.
E dava mais
um passo, gritos desafinados.
As borboletas
coloriam a rua deserta
A moça, a
face avermelhada.
Beleza
escondida sob as gotas de suor
As mãos
apertavam abaixo dos seios fartos
E às vezes,
assimétricas se juntavam
Próximas aos
joelhos, a moça se encolhe.
E levanta a
cabeça, e chora, apertando os dentes
Ainda
vermelha, suada, doce e dolorida, sorri.
Sempre soube
a dor de gerar vida
Encostada
numa árvore de caule fino
E galhas
desnutridas, calva de folhas.
Assusta-se
com a intensidade dessa dor
Gargalha, se
ajeita entre as raízes rasas.
Que se
relevam da terra, e marcam o chão.
Saem
arrastadas desenhando as linhas do destino
Dos que aqui
estiveram, dos que estão, dos que virão.
Trazem nelas
todas as marcas de vida, unhas de animais.
Rastros dos
cupins e formigas, rachaduras.
Passagens
que se dividem em duas, e seguem se dividindo.
E essas
raízes que agora machucavam
O corpo da
moça. Vão demarcando a pele
E
construindo um sentido pra todos os seguintes movimentos
O
encolhimento depois da dor, depois o alívio.
Que a fez se
estirar. E com as costas das mãos.
Tocar novamente
a roseira, fazendo voar as borboletas
Arranhando-se
contra os espinhos
Entre a
madrugada que se arrastava
E a manhã
que se anunciava
Através da
cor do céu, réplica.
Réplica da
cor das têmporas da moça
A lua que
não queria ir embora.
E roubava
sem o mínimo pudor o lugar do sol.
Estirou até
minha face um raio doce como os açúcares mais finos.
E tão
iluminado quanto a auréola de um anjo pecador, cuja
Beleza e
simplicidade são superiores a qualquer ouro
Mesmo o
vindo dos céus, honesto e batalhado.
E o clarão
da lua ao tocar minha face, cerrando meus olhos.
Colocou-me
no escuro eterno. E me carregou pra junto dela
E hoje pra
me expressar e sobreviver no milagre da palavra
Coloco-me na
pele de um garoto, quase inexpressivo.
Com nuances
de morbidez e alienação
Que convive
entre o suave e o proibido
E se rende
aos meus encantos
Deixando que
eu use o seu corpo (voz e mãos)ao meu bel prazer
Porque eu
não nasci anjo
Mas a luz,
assim me fez.
E quando for
expulso do corpo que uso e abuso.
Eu morrerei
numa noite de sol
Levarei suas
roupas, pertences, seu cachecol.
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