terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Queen


A rainha que mora em mim é linda
Cobre a cama com um linho vermelho
Espalha pétalas de rosas sobre o lençol
Acende as velas e incensos
Abre as portas da varanda
As cortinas permanecem fechadas
E deixam passar um pouco só de luminosidade
A rainha se envolve na toalha e passeia pelo quarto
Cantarolando versos de cantigas de amor
Desliza os dedos pelas paredes com delicadeza
Com a sutileza de uma pena caindo ao chão
Seu olhar conta os grãos de areia
O tempo se arrasta nessa tarde de outono
A ventania espalha folhas de macieiras por todo o palácio
As cortinas ainda entreabertas
Uma doçura que transforma furacões em brisas
Um corpo curvilíneo anda pelo cenário
Exibindo-se para as portas retas e janelas quadradas
Como se as provocasse, audácia irônica.
Num dos cantos do quarto da Rainha
Uma tina cheia de vinho do porto.
E ela se prepara para um banho embriagador.
Deixa o líquido avermelhado descer pela pele das costas
Enquanto olha ansiosa pelas brechas da varanda
A rainha demora a sair do banho
Ainda enrolada na toalha desprende os cabelos loiros
Joga-os, ajeita, penteia
A minha rainha se maquila diante do espelho
Coloca cores nas têmporas
Cílios postiços e passa pó
A rainha usa um batom deslumbrante
De um vermelho indecente
Os contornos dos seus lábios são convidativos
A rainha se levanta delicadamente
Por baixo da toalha usa calcinha fio-dental preta de renda
E espartilho preto, com cadarços apertados.
Seus seios saltam do espartilho
Suas joias deixam o colo ainda mais em evidência
Essa rainha tem um Kama-sutra no criado mudo.
Ela é fervorosa, fatal, promíscua.
Mas como ela é linda...
Deita em sua cama, com o olhar em direção á porta.
Espera pelo seu rei amante
Cansada dorme, dorme tranquila.
No outro dia recomeçará todo o ritual
A rainha em mim se prepara para um rei
Que ainda não foi coroado.
E não se sabe quando reinará.

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Abaixo da Auréola

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A fonte de inspiração que sobrevive aos borrões da cor, a lua que não encontra o sol e mesmo assim depende dele pra se manter clara,a alegria de um poeta ao ver a flor que molda as mais belas palavras e as sintoniza, criteriosamente, para que os admiradores sufoquem-se de beleza, inspirem-se e sonhem, cada dia, mais e mais, eu sou o portador da beleza que há nas palavras.