A rainha que
mora em mim é linda
Cobre a cama
com um linho vermelho
Espalha
pétalas de rosas sobre o lençol
Acende as
velas e incensos
Abre as
portas da varanda
As cortinas
permanecem fechadas
E deixam
passar um pouco só de luminosidade
A rainha se
envolve na toalha e passeia pelo quarto
Cantarolando
versos de cantigas de amor
Desliza os
dedos pelas paredes com delicadeza
Com a
sutileza de uma pena caindo ao chão
Seu olhar
conta os grãos de areia
O tempo se
arrasta nessa tarde de outono
A ventania espalha
folhas de macieiras por todo o palácio
As cortinas
ainda entreabertas
Uma doçura
que transforma furacões em brisas
Um corpo
curvilíneo anda pelo cenário
Exibindo-se
para as portas retas e janelas quadradas
Como se as
provocasse, audácia irônica.
Num dos
cantos do quarto da Rainha
Uma tina
cheia de vinho do porto.
E ela se
prepara para um banho embriagador.
Deixa o
líquido avermelhado descer pela pele das costas
Enquanto
olha ansiosa pelas brechas da varanda
A rainha
demora a sair do banho
Ainda enrolada
na toalha desprende os cabelos loiros
Joga-os,
ajeita, penteia
A minha
rainha se maquila diante do espelho
Coloca cores
nas têmporas
Cílios
postiços e passa pó
A rainha usa
um batom deslumbrante
De um
vermelho indecente
Os contornos
dos seus lábios são convidativos
A rainha se
levanta delicadamente
Por baixo da
toalha usa calcinha fio-dental preta de renda
E espartilho
preto, com cadarços apertados.
Seus seios
saltam do espartilho
Suas joias
deixam o colo ainda mais em evidência
Essa rainha
tem um Kama-sutra no criado mudo.
Ela é
fervorosa, fatal, promíscua.
Mas como ela
é linda...
Deita em sua
cama, com o olhar em direção á porta.
Espera pelo
seu rei amante
Cansada
dorme, dorme tranquila.
No outro dia
recomeçará todo o ritual
A rainha em
mim se prepara para um rei
Que ainda não foi coroado.E não se sabe quando reinará.
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